ÉFESO, A PRIMEIRA IGREJA – A Igreja dos
Apóstolos
Em sua
carta a Éfeso, a primeira igreja simbólica, Jesus identifica a comunidade dos
primeiros cristãos, a quem foi confiada a missão de levar ao mundo sua mensagem
de vida eterna. Antes de ascender ao Céu e retornar para junto de Seu Pai, o
Salvador deu aos Seus discípulos as últimas instruções que iriam transformar a
humanidade. Isso aconteceu no ano 31 e esse período durou até à morte de João, o
último dos Seus Apóstolos, por volta do ano 100.
As últimas
palavras de Jesus estão consolidadas na sublime comissão:
“Ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda criatura, fazei discípulos de todas as nações, ensinando-os a
guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado e batizando-os em nome do Pai,
e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19-20 e Marcos 16:15).
Quando
Jesus escreve a uma das sete igrejas ele não está se dirigindo a uma
denominação religiosa, a qualquer instituição, nem está se referindo a um
determinado lugar, ou região, mas aos seus fiéis seguidores de determinada
época ou período na História, não importa o rótulo que se lhes dê.
Sua igreja
não é representada por instituições, denominações, patrimônio material ou
doutrinas, mas por pessoas, indivíduos, comunidades que formam o corpo místico
do qual Ele é a Cabeça (Efésios 5:23).
Sete
versículos identificam o primeiro período da história do cristianismo:
Apocalipse 2:1-7
1. Ao anjo da
igreja de Éfeso, escreve: Isto diz Aquele que tem na mão direita as sete
estrelas e que anda no meio dos sete castiçais de ouro:
2. Conheço as
tuas obras, o teu trabalho, a tua perseverança e sei que não podes suportar os
maus, e que puseste à prova aqueles que se dizem apóstolos, mas não são,
e descobriste que eles são mentirosos.
3. E que tens
perseverança, e por causa do meu nome tens sofrido, sem desfalecer.
4. Tenho,
porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.
5. Lembra-te,
pois, de onde caíste, arrepende-te, e pratica as primeiras obras. Do contrário
virei a ti e tirarei o teu castiçal do seu lugar, se não te arrependeres.
6. Tens, porém,
a teu favor, que odeias a obras dos nicolaítas, como eu, também, odeio.
7. Quem tem
ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao vencedor darei a comer da
árvore da vida, que está no paraíso de Deus.
O “anjo” de cada igreja
representa aqueles que proclamam fielmente Sua mensagem, todos os que assumem a
liderança como Suas fiéis testemunhas, em todos os períodos da História em que
este mensagem tem sido sustentada e pregada.
Inicialmente
a mensagem deveria ser pregada em Jerusalém e por toda a Judeia, conforme a
instrução de Jesus:
Não
terminara ainda o prazo de quatrocentos e noventa anos (setenta semanas) do
tempo de graça determinado sobre o povo de Israel, conforme fora prometido por
meio do profeta Daniel, para que a nação se arrependesse e se convertesse dos
seus maus caminhos (Daniel 9:24-27.
Esse período
de favor à nação judaica terminou no ano 34, quando Estêvão, um dos sete diáconos
foi apedrejado (Atos 6:8 a 7:60), a partir de quando “começou uma grande
perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos
pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos” (Atos
8:1).
A mensagem
do nazareno crucificado começou a ser pregada aos gentios - como eram chamados
os não-judeus -, para toda criatura, de todas as nações, em todo o mundo. Assim
nasceu o cristianismo.
Nesta primeira carta Jesus retratou a pureza dos tempos apostólicos,
cujo período se estendeu até ao final do primeiro século e cujas verdades
recebidas diretamente do Salvador foram fielmente pregadas pelos Seus
discípulos e terminou com a morte de João, o último dos apóstolos a morrer e o
único a ter morte natural.
Desde o
começo do cristianismo Satanás iniciou sua obra de engano para perverter o
Evangelho. Os falsos mestres, “que se diziam apóstolos”, mas na realidade eram mentirosos ou apóstatas, já se manifestavam
desde os dias apostólicos, como declarou Jesus nessa carta.
Muitos
destes líderes religiosos eram escritores, inimigos da verdade e são hoje
declarados santos, aclamados, venerados e cultuados por diversas confissões
religiosas e canonizados por decretos humanos.
Paulo advertiu à igreja, afirmando saber que “depois de sua morte
entrariam no seu meio ‘lobos cruéis, que não perdoarão ao rebanho’ e que dentre os seus
contemporâneos e professos irmãos se levantariam muitos homens “falando coisas perversas”, para
desviarem os discípulos da límpida fé do evangelho de Cristo (Atos 20:29 e 30).
Pedro fez idêntica advertência, afirmando que em seus dias já havia
falsos mestres, ensinando o erro e introduzindo ocultamente heresias, negando
as verdades ensinadas por Jesus e que, por interesse, estavam fazendo da fé
negócio blasfemo e maldito (2 Pedro 2:1-3).
Os acontecimentos históricos mostram o cumprimento de tudo o que Jesus
predisse. No início do cristianismo, nos dias dos apóstolos, inúmeros falsos
ensinadores, dizendo-se seguidores de Cristo, na verdade insinuaram o erro e a
tradição em lugar do Evangelho de Jesus.
Incorporando ao cristianismo a filosofia de Platão excluíram o ensino
dos profetas hebreus. O judaísmo passou a ser olhado com ódio e preconceito por
toda a sociedade imperial romana e pelos cristãos não judeus. Por causa do
feroz nacionalismo judaico todas as suas instituições e cerimônias passaram a
ser evitadas e combatidas pelos conversos à nova fé.
Destruição de Jerusalém pelo exército romano, no ano 70 |
O antagonismo entre judeus e os invasores romanos atingiu um nível
crítico, influenciando o cristianismo nascente, cujos adeptos começaram a
sentir-se incomodados com a referência e conexão de sua fé com o judaísmo
discriminado.
Já nesse período, no início da era cristã, as verdades do Evangelho
Eterno começaram a ser modificadas por aqueles que a sagrada profecia bíblica
chama de mentirosos e de falsos apóstolos. Dentre estes
podem ser destacados dois notáveis “pais da igreja”, venerados hoje como “santos”,
a quem se devem prestar reverência e culto e que muito contribuíram para “lançar
a verdade por terra e pisá-la” (Daniel 8:10):
Clemente de Roma - (35-99) – “São Clemente I, conhecido como Clemente Romano é considerado hoje como tendo sido o quarto papa da Igreja Católica, entre 88 e 97. Ele foi o primeiro Pai da Igreja. Estabeleceu o “sacramento” da Crisma, ensinou normas referentes à ordem eclesiástica hierárquica (bispos, presbíteros, diáconos) e ao primado da Igreja de Roma” (Wikipedia, destaques acrescidos).
Inácio de Antioquia - (35-107) – “Santo Inácio foi bispo de Antioquia da Síria entre 68 e 100 ou 107, discípulo do apóstolo João, também conheceu São Paulo. Ele ensinava que “os cristãos herdeiros da Nova Aliança não guardam mais o sábado, mas se reúnem no dia do Senhor (o domingo)”. Ele declarou: "Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte” (Wikipedia, destaque acrescentado).
Outro personagem histórico que emprestou enorme influência negativa ao
cristianismo e colaborou para a nascente e crescente apostasia foi o filósofo judeu
que abraçou a filosofia grega, Filon de Alexandria, a respeito de quem se
afirma:
“Fílon de Alexandria - (20 a.C. – 50 d.C.), foi um filósofo judeu-helenista que viveu
durante o período do helenismo. Tentou uma interpretação do Antigo Testamento à luz das
categorias elaboradas pela filosofia grega. Foi autor de
numerosas obras filosóficas e históricas, onde expôs a sua visão platônica do
judaísmo. Surge como o primeiro pensador
a tentar conciliar o conteúdo bíblico à tradição filosófica ocidental” (Wikipedia).
Contemporâneo de Jesus, ele tinha enorme influência entre a
aristocracia judaica de sua época. Seu grande propósito, conseguido em parte,
foi conciliar os ensinamentos de Moisés com o filósofo grego Platão, o que
resultou num desastre para a religião da Bíblia. “O ensino platônico penetrou primeiramente no judaísmo helenístico,
sobretudo pela influência do filósofo judeu Filo de Alexandria” (Samuele
Bacchiocchi, Crenças Populares, Cpb, pag. 52).
O mesmo autor, na obra citada, continua: “O mais influente escritor judeu helenístico, Filo de Alexandria,
tentou provar de forma sistemática a existência de harmonia interna entre
Platão e Moisés, isto é, entre o pensamento religioso judaico e a filosofia
grega... Pouco a pouco, o ensino de Filo se infiltrou na igreja cristã, já
influenciada por uma forma modificada de platonismo, chamada neoplatonismo”
(Obra citada, pag. 53, destaque acrescentado).
É importante ressaltar que Alexandria era a segunda cidade em
importância do império romano. Fundada pelo conquistador grego Alexandre, o
Grande, em 331 a.C. era o maior centro de difusão da cultura e filosofia grega
no período mencionado. Mais importante, ainda, é relembrar que a Palavra de Deus deixa muito claro que a
Sua verdade não foi manifestada por meio dos filósofos gregos ou de qualquer
outra nação, mas através dos profetas hebreus, como está escrito:
“Mostra
a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim
a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem” (Salmos 147:19-20).
Nicolaítas:
É possível que essa designação seja originada de um dos 7 primeiros diáconos,
Nicolau de Antioquia, o único deles que não era judeu, mas um converso estrangeiro
recebido entre os primeiros cristãos (Atos
6:5), o qual pode ter dado origem ao nome “nicolaítas”. Estes formavam um grupo
de falsos apóstolos que pregava doutrinas contrárias às Escrituras, entre as
quais se cogitam as de que “a sensualidade não contamina o espírito” e a de que
se deveria prestar uma vez ao ano culto de adoração ao imperador.
“Hipólito de Roma diz que o diácono "Nicolau"
dos Sete diáconos (veja Atos 6:1) era o autor da heresia e líder da
seita. São Vitorino de Pettau (ou Victorinus) diz que eles comiam
oferendas dos ídolos. O venerável Beda afirma que Nicolau permitiu que muitos
homens se casassem com sua esposa. Eusébio diz que a seita teve vida curta. Tomás de Aquino era da opinião que Nicolau incentivava ou a poligamia ou que os homens tivessem esposas em comum” (Wikipedia).
Antioquia era, nessa época, a terceira cidade do império, perdendo apenas em
importância para a capital Roma e para Alexandria. Foi nessa cidade e nesse período que os seguidores de Jesus foram pela
primeira vez chamados de Cristãos:
“E sucedeu
que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela
primeira vez, chamados cristãos”(Atos 11:26)
Este primeiro período da igreja cristã pode apropriadamente
ser chamado de “o período dos apóstolos”. Ainda nesse período o cristianismo
começou a perder a sua pureza e o seu primeiro amor, o que despertou a repreensão
de Jesus e os conclamou ao arrependimento e à prática das primeiras obras, sob
pena de perderem o seu galardão prometido.
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